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Massimo Busacca numa conversa franca sobre a arbitragem

Quando um ponto tão importante, tão delicado, carregado ao mesmo tempo de subjetividade e paixão, como o da arbitragem é encarado com humildade por aqueles que têm ao seu cargo a formação e capacitação dos árbitros de elite, a polêmica e a discussão se elevam ao nível da inteligência e sensatez que é onde deveria estar sempre.

Quando um ponto tão importante, tão delicado, carregado ao mesmo tempo de subjetividade e paixão, como o da arbitragem é encarado com humildade por aqueles que têm ao seu cargo a formação e capacitação dos árbitros de elite e reconhecendo que as coisas podem não sair do modo em que se deseja, a polêmica e a discussão se elevam ao nível da inteligência e sensatez que é onde deveria estar sempre.

Na Conferência Técnica da FIFA, realizada no Panamá para representantes da CONMEBOL e da CONCACAF, uma das palestras mais interessantes esteve a cargo de Massimo Busacca, diretor de arbitragem da FIFA, não apenas pelo exposto por ele mas pelas consultas, as “ida-e-voltas” com os participantes. Assim, o que sai ganhando é o futebol, e é assim que todos aprendemos, todos crescemos e, ainda, ganha-se transparência e clareza.

O interesse da conversa com Busacca ficou patente em que, num determinado momento, os moderadores da Conferência se viram obrigados a parar a mesma, por motivos de tempo e programação, de tal manera que o previsto na agenda com relação a outros participantes pudesse cumprir mas com a promessa de seguir o diálogo posteriormente.

Busacca fez uma resenha sobre a tarefa realizada pela direção ao seu cargo indicando que “a Comissão de Árbitros da FIFA designou 25 trios arbitrais e 8 duos de apoio de 43 países. A formação e o seguimento destes árbitros começaram em 2012 com o projeto denominado “Caminho ao Brasil”. Destacou, neste sentido, “as atividades técnicas e físicas que foram apoiadas por estritos controles médicos”. Mencionou como ponto alto “as reuniões que mantivemos com os treinadores e representantes de todas as seleções em Florianópolis. Buscamos esclarecer vários pontos fundamentais e nos parece de suma importância que jogadores, treinadores e árbitros possam falar de esportividade. Já na sede do mundial estas reuniões se repetiram com cada uma das seleções que foram com o plantel completo de jogadores e corpo técnico. Estas reuniões foram importantes não somente desde o ponto de vista técnico mas também para poder ter uma comunicação direta, conhecermos; é bom desenvolver uma relação de respeito mútuo dentro e fora do terreno de jogo”.

Citou como avanços importantes “a tecnologia sobre a linha de gol e o uso do spray para marcar a posição da barreira nos tiros livres”. “No caso da tecnologia na linha de gol nos permitiu comprovar em duas ocasiões que a bola passou da linha de gol e, no caso do spray ajudou que a barreira se posicionasse no lugar correto e permanecesse ali. Isso é bom para o jogador que cobra o tiro livre e o fato de estar marcada a linha os jogadores não se adiantam e isso evita admoestações”.

                                      

“Somos a seleção número 33 e também tratamos de ter os melhores no nosso plantel”.

Mesmo que foi do relatório oficial, em um tom de diálogo, de explicação em tom de conversa futeboleira, Busacca disse que “nós, os árbitros somos a seleção número 33 do mundial e o que buscamos é o mesmo que buscam os diretores técnicos das outras 32 seleções, também queremos ter os melhores no nosso plantel e, para isso, trabalhamos em todos os aspectos. O que acontece na arbitragem acontece com os treinadores. É que num plantel nem todos têm o mesmo nível, nem todos são “número 10″, há alguns com qualidades superiores e outros que não têm as mesmas condições. Quando estas condições estão naturalmente em um árbitro tudo é mais fácil, mas se não  estão tem que se trabalhar mais”.

Sobre este trabalho, o da preparação de um árbitro da Copa do Mundo, disse que “hoje em dia não é suficiente uma preparatória técnica e física mais a parte médica. Atualmente a preparação de um árbitro exige muito conhecimento do jogo, das características das equipes, dos jogadores, das táticas. É muito importante que o árbitro tenha um jogo de leitura do jogo que lhe permita antecipar o que pode acontecer e isso requer muita concentração e muito conhecimento do jogo e das equipes que estão jogando. Na parte física não importa muito que o árbitro corra muito mas sim que corra bem”.

“É essencial que o árbitro tenha mentalidade futebolística”

Referindo-se à prática da arbitragem Busacca indicou que “é essencial que o árbitro tenha mentalidade futebolística, isto é, que saiba realmente sobre o jogo e não apenas as regras, que entenda o que acontece, o porquê acontece e como acontece, que saiba interpretar cada ação do jogo e aqui voltamos ao que já dissemos, há árbitros que têm esse dom, que têm esse conhecimento, que sentem o futebol dessa forma e há outros que não. Dizemos que o árbitro deve ter olfato futebolístico, deve “cheirar” o jogo, ter esse “feeling”, esse sentimento que permite que um saiba como agir em cada momento”.

“Nós buscamos que o juiz faça tudo da maneira mais simples possível, com muita comunicação, com bom relacionamento, tentando prevenir o que pode ser prevenido e de evitar o que pode ser evitado. Procuramos proteger os jogadores e a imagem do jogo, buscamos a esportividade, o fair play e o respeito”.

Diálogo aberto = transparência

Na hora das perguntas, do intercâmbio com os participantes, houve momentos muito agradáveis, cheios de essência futebolística como, por exemplo, quando o técnico da seleção do México Miguel Herrera perguntou novamente sobre algo que já tinha mencionado no transcurso do mundial e que tem a ver com o que no México chamam de “los clavados” e que na América do Sul e é equivalente a “se jogar na piscina”. Em particular, ele se referiu ao “caso Robben” e também consultou do porquê que em jogos decisivos um árbitro pertencente ao mesmo continente de uma das equipes pode apitar.

Busacca respondeu que “seria muito difícil responder sobre cada uma das partidas e cada uma das sanções. Trabalhamos buscando eliminar os erros mas sabemos que haverão e pedimos desculpas quando há, lamentamos pois sabemos perfeitamente que um erro pode decidir uma classificação ou uma eliminação. Dói muito quando comprovamos que houve um erro, mas está dentro das possibilidades do nosso trabalho. No que diz respeito a um árbitro de um continente apitar um jogo decisivo em que joga uma seleção desse continente, nós não prestamos atenção a isso, buscamos capacidade, buscamos os melhores e se acreditamos que um árbitro é o indicado para um jogo então o designamos, confiando na sua capacidade e honestidade”.

Entre as perguntas surgiu o tema da ultrapassagens dos arqueiros nos pênaltis e Busacca respondeu que “estamos trabalhando nisso e procuramos seguir a linha da qual temos falado, fala-se muito com os arqueiros, eles são advertidos e acreditamos que neste mundial não houve casos de ultrapassagens”.

Havia mais algumas perguntas, até que, desta vez de forma definitiva. A conversa encerrou embora pudesse ter continuado por um tempo indefinido, como quase todas as conversas sobre futebol. O bom, o melhor de tudo são os resultados alcançados com este tipo de encontros entre pessoas de diferentes setores do futebol. É que no diálogo aberto, com transparência, podem-se enfocar vários aspectos do jogo em si e de seu entorno. E, claro, a arbitragem desempenha um papel importante neste processo. Por isso, foi bom que, antes de partir, Massimo Busacca reiterou que “vamos sempre pedir desculpas pelos erros, lamentamos muito quando eles ocorrem. E estamos sempre abertos ao diálogo, sugestões e tudo o possa ser bom para o futebol”.

 

Robert Singer / conmebol.com

Foto: AFP e gentileza imprensa / FIFA

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