Muito além das brincadeiras e piadas que as pessoas fazem a respeito da utilização do Viagra em jogadores de futebol que irão competir na altura, o tema é de válida discussão no plano científico. O doutor Vinicius Martins, médico do Palmeiras desde 1979, fala sobre este e outros pontos referentes à medicina no futebol atual.
Mal voltou a sair a possibilidade e, desde então, causou assombro, estranheza, dúvidas, enfim, tudo aquilo que uma informação pode causar ao sentido comum das pessoas. Entre os pontos de vista, o científico tem uma maneira de se notar, e então, teria a sua base em dados, estudos, informação detalhada e específica, já o popular é outro, chegando a aproximar daquilo que é jocoso.
Acontece que no dia 10 de abril deste ano, o Cerro Porteño do Paraguai vai ter que jogar contra a equipe peruana Real Garcilaso – que será local- na cidade de Cusco, a 2399 metros sobre o nível do mar. E, desde o corpo médico da equipe paraguaia, através do doutor Aldo Martínez, ficou aberta a porta para que uma das medidas a considerar a fim de minimizar os efeitos da altura seria utilizar o Viagra – uma pastilha mais conhecida para a maioria das pessoas em âmbitos distintos que os do futebol.
Coincidindo com o momento em que a notícia mostra esta possibilidade, a delegação do Palmeiras chegou ao Paraguai para disputar um jogo contra o Libertad no marco da Copa Libertadores da América e conmebol.com dialogou com o médico do plantel, o doutor Vinicius Martins.
Falando a respeito da reação popular, do que o povo pensaria se perguntássemos o que aconteceria caso os jogadores tomassem no transcurso de um jogo e ocorresse o feito mais popularmente conhecido. O doutor Martins deu risada e disse “é lógico que as pessoas que pensam dessa maneira façam perguntas e brincadeiras assim, forma parte do folclore e, além disso, é algo que no futebol parece um tanto estranho, mas nós, desde a nossa posição somos obrigados a encarar seriamente tanto esse como qualquer assunto que se refira à saúde dos nossos esportistas”.
– c.c: Falando seriamente, do ponto de vista científico, como se encara esta possibilidade no futebol?
– V.M.: Nós temos estudado muitos trabalhos realizados sobre este recurso, da utilização do Viagra mas, na verdade é que não há nada que garanta que a sua utilização seja positiva para o rendimento dos jogadores na altura. Já tivemos que jogar em Potosí, a 5.000 metros de altura, acho até que está no livro Guinnes como a cidade mais alta e o que fizemos foi jogar uma aclimatação gradual com uma estadia de cinco dias em Sucre, a 2.800 metros sobre o nível do mar, levamos a nossa própria comida, cuidamos de todos os detalhes ao nosso alcance e acredito que isso seja o melhor. Na Europa foi usado este recurso de Viagra no ciclismo, porém os resultados ainda são categóricos a respeito de seus benefícios.
-c.c: Passando a um ponto mais generalizado sobre o seu trabalho. Hoje, com tantas partidas durante o ano, muitas vezes jogando três vezes por semana, com tantas viagens. Tudo isso tem ajudado na forma de encarar o cuidado dos jogadores? Há novos tratamentos para acelerar a recuperação de um jogador?
-V.M.: Sim, sem dúvida, é bem mais delicado o trabalho desde o ponto de vista médico, e é por isso que trabalhamos com um grande departamento médico com vários especialistas como nutricionistas, fisiologistas, preparadores físicos, enfim, tem muita gente que se encarrega da saúde dos jogadores porque é assim, hoje as equipes competem de forma mais seguida, são muitas viagens, o cansaço, o desgaste e as lesões aumentam. Jogando aos domingos tem mais tempo para a recuperação de um jogador, mas quando a equipe está numa copa internacional ocorre o que eu mencionei, as viagens e os jogo um atrás do outro. Tudo isso tem influência no rendimento físico do jogador e obriga que a nossa equipe médica esteja atenta permanentemente em relação às respostas físicas dos jogadores
-c.c: Em um plantel, os jogadores têm o mesmo treinamento, mas às vezes pode-se pensar que, talvez pela idade ou por características próprias, cada jogador é distinto um do outro, assim como na parte técnica, na parte física e também médica.
-V.M.::Isso acontece porque num mesmo plantel tem jogadores de diversas idades, tem jogadores que sentem menos o cansaço, tem jogadores que se recuperam das lesões com mais rapidez, tem jogadores que sofrem muitas lesões musculares, enfim, devemos conhecer cada um deles com suas próprias características porque isso nos permite também saber com a maior certeza possível de como cada um deles se encontra.
–c.c: A tecnologia ajuda muito o trabalho médico?
-V.M.: Sem dúvida, cada vez mais vão surgindo novas máquinas, novos aparelhos que nos permitem avaliar, diagnosticar e tratar os jogadores e você como médico, deve estar atento a estes avanços para, no clube, poder contar com o que há de melhor e mais moderno neste campo.
R.S. / conmebol.com