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Bora Milutinovic: “O segredo está na paixão”

É um personagem, ou talvez uma personalidade, no âmbito do futebol mundial. Dirigiu nada menos que cinco mundiais consecutivos – México’86, Itália’90, EUA’94, França’98 e Coreia/Japão 2002 – sendo em dois deles –México’86 e EUA’94 – o  técnico da seleção anfitriã.

É um personagem, ou talvez uma personalidade, no âmbito do futebol mundial. Dirigiu nada menos que cinco mundiais consecutivos – México’86, Itália’90, EUA’94, França’98 e Coreia/Japão 2002 – sendo em dois deles –México’86 e EUA’94 – o  técnico da seleção anfitriã.

O treinador sérvio Bora Milutinovia tem sido um verdadeiro nômade em sua carreira e, de passagem pelo Paraguai, dentro de um programa social de futebol para rapazes e jovens esteve de visita na sede da CONMEBOL onde dialogou com a conmebol.com.

“Estou muito feliz por estar aqui, sempre gosto de vir. Vi o museu também e é muito bonito”, disse.

conmebol.com: Professor, você imaginava quando começou esta carreira que iria dirigir cinco mundiais?

Bora Milutinovic: Ha, ha, nunca, se alguém dissesse que eu ia dirigir um mundial já era suficiente para mim, porém as coisas foram dando dessa maneira e, sim, estive em cinco mundiais e tenho lembranças muito bonitas de cada um, cada um foi especial.

c.c.: Vamos de um em um, primeiro, o do México’86. Primeiro mundial e ainda técnico do anfitrião

B.M.: Sim, foi um grande mundial e nós fizemos uma grande campanha, terminamos em sexto sem perder nenhum jogo. Contra a Alemanha perdemos nos pênaltis. Lembro que nesse mundial foi inventada a “onda”, esse movimento em que as pessoas se levantam dos seus lugares ao redor de todo o estádio e, finalmente, resta o reconhecimento do público que pediu que toda a equipe entrasse em campo no dia da final para render homenagem à seleção.

c.c.: Itália’90

B.M: Na Itália dirigi a seleção da Costa Rica e também fizemos uma boa campanha classificando no grupo. Era uma equipe com muito coração e também as pessoas da Costa Rica reconheceram tudo o que foi feito naquela vez

c.c.: Nos EUA ’94, outra vez com a equipe local

B.M.: E outra experiência enorme. Estados Unidos não tinha uma liga profissional e teve que trabalhar muito para poder armar uma equipe competitiva e conseguimos. Foi um grande desafio e acho que fizemos algo muito importante para que o torcedor americano se sentisse identificado também com o futebol.

c.c.: França’98

B.M.: Aí tive que dirigir a Nigéria, uma excelente seleção com muito bons jogadores, conseguimos uma grande vitória contra a Espanha por 3 a 2 e novamente tive a sorte de que minha equipe se classificasse em seu grupo.

c.c.: Coreia/Japão ’02:

B.M.: Fui como diretor técnico da China e apesar de que não nos classificar o importante foi ter ido ao mundial, esse foi o êxito.

“HOJE IMPORTA MUITO A PREPARAÇÃO FÍSICA”

c.c.: Professor, como você vê o futebol atual?

B.M.: Eu vejo muito físico, hoje a preparação física passou a ser quase mais importante que a parte técnica e não acho que isso seja bom. Correm muito, porém isso não quer dizer que joguem melhor, eu gosto de ver os talentosos jogarem. Claro que deve haver um equilíbrio nas equipes, mas eu gosto que minhas equipes joguem bem, sou um romântico.

c.c.: Você trabalhou mais com seleções do que com clubes, que seleções se lembra ao longo da história?

B.M.: Acho que as seleções que ganharam mundiais foram marcantes, não foi a toa que chegaram a ser campeãs e também houveram outras seleções como Holanda’74 que não ganhou o mundial, porém foi uma grande equipe liderada por Johann Cruyff; vi muitas seleções excelentes.

c.c.: Nunca dirigiu uma seleção sul-americana?

B.M.: Não, lamentavelmente não houve a oportunidade.

c.c.: Alguma vez esteve perto?

B.M.: Não sei se perto, já me disseram sim, mas não chegamos a aprofundar e tudo ficou apenas na conversa, eu lamento porque eu teria gostado de dirigir uma seleção sul-americana. Admiro muito os jogadores e o futebol da América do Sul.

c.c.: E no individual, que jogadores você lembra?

B.M.: Foram muitos os grandes jogadores e inclusive jogadores como Di Stéfano que era excepcional, mas que não chegou a jogar em um mundial na atualidade; eu acho que hoje Messi e Cristiano Ronaldo são muito superiores aos outros.

c.c.: Do que depende para um jogador chegar a estar entre os melhores?

B.M.: Tem que ter talento mas, além disso, deve ser muito forte mentalmente, fisicamente e também taticamente. Deve ser o mais completo possível, os que alcançam esse nível são os que se destacam.

c.c.: Hoje você trabalha em um projeto com meninos de escassos recursos, é uma tarefa diferente, está retirado da direção técnica?

B.M.: Não, este é um trabalho muito bonito, porém não estou retirado, simplesmente faço uma coisa que me chamaram e gostei da ideia e nisso estamos.

c.c.: Passou toda uma vida viajando o mundo, professor. Como isso é superado desde o ponto de vista familiar?

B.M: Bem, felizmente tive a sorte de que minha família me acompanhou sempre, sem dúvida isso foi muito importante.

c.c.: O que você diria a um diretor técnico jovem que queira ser como Bora?

B.M.: Não, como Bora impossível, ha, ha. O que digo é que nem eu sequer imaginava dirigir cinco mundiais, ninguém não pode começar uma carreira e dizer vou estar em cinco mundiais, isso foi acontecendo e tem sido maravilhoso porque estar em um mundial é incrível.

c.c.: Ok, então, o que você diria a um diretor técnico que começa?

B.M.: Que estude, que veja, que trabalhe, que analise e, acima de tudo, que aproveite desta carreira, que coloque muita paixão, o segredo está na paxão que um coloca no trabalho que faz.

Robert Singer/conmebol.com

Fotos: Néstor Soto/conmebol.com

 

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