Seus 12 gols a colocam como a máxima artilheira da história do Torneio Olímpico de Futebol Feminino. Porém, apesar do orgulho desse marco, ela trocaria tudo por uma medalha de ouro com sua Seleção, essa que os Estados Unidos arrebatou duas vezes, nas finais de Atenas 2004 e Pequim 2008.
São 83 gols com a camisa da Seleção e uma canhota respeitada em todo mundo. Atualmente no Paris Saint-Germain, onde veste a camisa 10 e renovou recentemente o contrato para ficar até 2017, Cristiane é ambiciosa. Acha que o Rio 2016 é a hora do título. A atacante fala sobre o lado bom e ruim de jogar em casa, sobre a obrigação brasileira de ganhar o ouro inédito e a falta de estrutura e incentivo ao futebol feminino.
“Vamos ver se eu continuo marcando gols e deixo para trás as outras artilheiras atrás de mim, mas eu tenho que ser honesta e dizer que eu nem sei quem são ou quantos gols elas têm”, disse a jogadora, em entrevista ao site da Fifa.
“Eu estou muito orgulhosa do meu recorde, especialmente por ter alcançado tão nova”, disse a atacante brasileira. A sua estreia foi em Atenas, em 2004, quando tinha 19 anos. “A Olímpiada de 2004 foi minha grande estreia. Eu trabalhei com Renê Simões e ele mudou a minha carreira de várias formas: no campo e em termos de disciplina”, contou Cristiane.
“Ele me ajudou muito. Ele acreditou em mim. Ele me levou para as Olimpíadas com 19 anos, quando ele poderia facilmente ter convocado jogadores com mais experiência. Eu sabia que tinha talento e ele me deu uma chance. Eu consegui um lugar entre as titulares depois que uma companheira se machucou e eu aproveitei ao máximo a minha chance. Foi um grande incentivo para mim e aquele torneio mudou a minha carreira”, explicou a atacante do Paris Saint-Germain.
Cristiane se tornou a maior artilheira da história das Olimpíadas marcando cinco gols em 2004, outros cinco gols em 2008, terminando como artilheira das duas competições, e marcou mais dois gols em 2012. Em 2016, ela pensa em mais do que os gols.
“O principal objetivo é ganhar a medalha de ouro. Qualquer outra coisa será por causa disso. Meus gols só serão úteis se ajudarem o time”. Depois de viver a experiência em Atenas, em 2004, Pequim, em 2008, e Londres, em 2012, desta vez a Olimpíada será em casa, no Rio de Janeiro. Isso é uma vantagem, mas Cristiane também acredita que será uma pressão.
“Há um risco, mas é um bom risco”, afirmou a camisa 11. “Apesar das pessoas dizerem que nós não temos que ir e ganhar o ouro, para mim, como alguém que jogou em outras Olimpíadas, ganhou duas pratas e ficou perto do ouro, eu acho que temos obrigação de ganhar. Jogar em casa com os torcedores ao nosso lado será um incentivo, mas a expectativa também será alta aqui. Os brasileiros podem ser impacientes e eles só irão apoiar até certo ponto. Quando suas expectativas não são alcançadas, eles podem começar a ficar irritados”, ela disse, sorrindo.
Aos 31 anos, Cristiane atualmente é uma das mais experientes do elenco brasileiro. Assim, quer passar essa experiência à jogadoras mais jovens da Seleção, que irá ao Rio com uma equipe renovada.
“A Olimpíada abre portas para você como jogadora”, afirmou Cristiane. “Os grandes clubes estão assistindo e você pode conseguir um bom contrato com um time de uma grande liga. É uma competição mais curta que a Copa do Mundo, mas é mais intensa. Nós temos um time renovado e a maioria das jogadoras estarão na sua primeira olimpíada. Elas estão muito bem preparadas”.
A própria Cristiane destaca quem são as novas jogadoras que merecem ser olhadas com atenção. “Tem a Bia Zaneratto, uma atacante forte, que bate muito bem na bola. Ela melhorou a sua técnica e ela pode ganhar jogos para nós. Tem também a Andressinha, que é uma meia-atacante. Ela é muito boa jogadora, muito inteligente e passa muito bem a bola. Elas tem muito a oferecer ao time em termos de estrutura e elas são as que devem ser observadas porque elas são o futuro”, disse a jogadora.
Experiente e goleadora, Cristine quer deixar uma marca maior do que ser a maior artilheira das Olimpíadas. “Eu não ficaria feliz em apenas ser a maior artilheira quando me aposentar. Eu preciso de um título também”, contou.
“Eu vejo as garotas e digo para elas que se os times de 2004 e 2008 tivessem os recursos que temos agora, teriam ganhado o ouro”, brincou Cristiane, rindo. Mas ela também fala sério em relação aos problemas do futebol feminino, que continuam grandes.
“Nós conseguimos muitas coisas, mas talvez não tão rapidamente quanto gostaríamos. Ainda nos falta incentivos, estrutura e recursos. Talvez ganhar a medalha nos dê o empurrão final que precisamos”, declarou a jogadora.