O professor Juan Carlos Osorio, diretor técnico do clube Nacional de Medellín, dialogou com a conmebol.com. Apaixonado pela tática, estratégia e preparação de equipes competitivas.
conmebol.com: Fale sobre os bilhetinhos aos seus jogadores em pleno jogo…
O professor Juan Carlos Osorio dá risada. Sabe que é uma característica sua e que muito foi falado desse costume, sente saudades certamente, que é escrever instruções táticas em um papel que o jogador que entra para substituir um companheiro se encarrega de entregá-lo ao capitão de equipe para que este, por sua vez, reparta as correspondentes indicações aos demais colegas.
A conversa havia chegado a um ponto em que comentávamos ao professor Osorio, hoje dirigindo o Nacional de Medellín, a maneira especial que ele tem de vivenciar os jogos e lhe perguntamos se ele se considera um obsessivo nesse sentido. Cabe indicar que, além dos bilhetinhos, o professor Osorio faz anotações em um livrete durante todo o jogo.
O professor Osorio e seu caderno de notas. As anotações são permanentes durante as partidas.
Juan Osorio: Obsessivo talvez não, mas sim gosto de estar em cada detalhe; antes, durante e depois de cada partida. Observo os detalhes, trato de marcar cada ponto que possa ser importante para o rendimento da minha equipe, por isso anoto tudo e por isso anoto as instruções que o capitão recebe.
c.c.: Tem que escolher bem o capitão, então…
J.O.: Meus jogadores escolhem o seu capitão. Eu divido o plantel em três grupos, por idades, de 20 a 24, 25 a 30 e os mais veteranos e cada grupo escolhe um capitão que passam a ser os líderes com quem trabalho e daí sai o capitão. Por outra parte, todos os meus jogadores sabem para que jogamos, o que é que treinamos, por exemplo numa partida se eu paro e faço este gesto (N.da R.: faz uma figura juntando as duas mãos) eles já sabem que têm que fazer um rombo no meio campo, todo o treinamento que fazemos se baseia em situações de jogo.
c.c.: Você tem uma longa trajetória que inclui uma experiência europeia, na Inglaterra (Manchester City) mas começou como preparador físico. Quando e como tomou a decisão de ser técnico?
J.O.: O que acontece é que sempre foi esse o objetivo, eu sabia que ter uma base como preparador físico me ajudaria na minha carreira mas a ideia sempre foi a de dirigir e assim fiz os passos devidos, fui preparador físico, assistente de técnico até chegar a ser técnico principal.
c.c.: E o ajudou como treinador ser preparador físico?
J.O.: Muito, porque além de tudo sinto que, de certa forma, sou un pioneiro no método de treinamento que faço com as equipes que dirijo. Creio que todo preparo de um jogador deve estar fundamentado no jogo, em situações do jogo e na preparação física também deve seguir esse caminho.
"Creio que todo preparo de um jogador deve estar fundamentado no jogo".
c.c.: Muita bola nas práticas?
J.O.: Totalmente, é a base, a essência do nosso trabalho.
c.c.: Mas a época em que você começava essa maneira de treinar, e acima de tudo na Europa, terá ido em sentido contrário do que se fazia…
J.O.: Foi assim. Custou muito porque tinha que convencer os dirigentes, os assistentes, os jogadores e isso não era fácil, havia muita resistência mas é muito lindo quando você comprova que os seus jogadores se adaptam, que descobrem que é bom o que está sendo feito e que se sentem bem, isso acontece até agora. Antes fazia-se muito exercício (de academia), muita força, muita resistência e me lembro que quando me viram trabalhar, como assistente de Kevin Keegan, disseram que eu fazia os jogadores correrem pouco, aí eu lhes disse que se no campeonato a equipe não tivesse bom rendimento, eu iria embora e, felizmente, o time respondeu bem.
c.c.: No Nacional de Medellín continua utilizando essa maneira de treinar?
J.O.: Sem dúvida, não quero me gabar de que somos a única equipe que treina da maneira que fazemos mas sim continuo porque estou convencido que deve-se equilibrar o fisiológico e o lúdico, a parte do jogo é fundamental. Nós, no Nacional, temos um 'preparo futebolizado', tudo está feito em base ao jogo em si e por sorte os resultados nos têm ajudado porque, como dizia um técnico, quando se ganha tudo o que um sustém se adquire maior força.
c.c.: O que sente alguém estudioso e metódico na preparação de uma partida quando vê que sua equipe não está jogando bem?
J.O.: Acredito que o trato de preparar minha equipe da melhor maneira e na hora do jogo, vai depender do jogador, que saiba resolver, que se lembre do praticado. Há uma fórmula que cria a palavra PIDE que indica que el jogador deve Perceber, Identificar, Decidir, Executar. Eu, como treinador, como estrategista, devo estar atento para corrigir algo que não esteja saindo como havíamos previsto. Tenho que ver se está falhando o planejamento que preparei, tenho que ver se é correto mas falhei na escolha dos jogadores, enfim, devo analisar tudo, cada ponto.
c.c.: Na América do Sul não é habitual que um técnico fique muitos anos em um clube, já que você esteve na Inglaterra, gostaria de ser o Ferguson do Nacional?
J.O.: Seria bom apesar de que tem que ver as funções de cada um pelas características de trabalho de cada país. Ferguson é um excelente manager ao estilo inglês, ele projeta todo o trabalho, diz o que se deve fazer, como a equipe vai jogar mas não a treina durante a semana e eu gosto de treinar, gosto de preparar minha equipe em campo, essa é uma diferença. Sim, gostaria no Nacional, tive ofertas tentadoras do exterior mas escolhi ficar porque estamos trabalhando num centro de treinamento que acredito que será único na América do Sul, estamos fazendo de tal maneira que seja um centro modelo, funcional para o futebol, é um sonho que vamos tornando realidade.
Robert Singer/conmebol.com
Fotos: Néstor Soto/conmebol.com e arquivo AFP