Adeus a camas circulares e tetos espelhados: o sexo já não é negócio e os motéis do Rio de Janeiro estão investindo milhões para reformar seus atrevidos aposentos e atrair os turistas que visitarão a ‘cidade maravilhosa’ no Mundial-2014 e nos Jogos Olímpicos-2016.
Shalimar, localizado no confortável bairro do Leblon, é um dos 60 motéis que estão sendo reformados, trocando os tapetes vermelhos, espelhos, camas de água em forma de coração e correntes nas paredes por uma decoração minimalista.
No total serão reformados 3.500 dos 6.500 quartos de motel da cidade, um investimento que supera os 100 milhões de dólares, indicou para a AFP, a agência de promoção de inversões da cidade, Rio Negócios.
No Rio “existe um problema de oferta (de aposentos de hotel), mas estamos trabalhando nisso. Teremos 16.000 camas a mais (…). Também usaremos os motéis. Isso é algo novo, pode ser uma aventura para um casal, uma ocasião para novas experiências”, disse rindo o prefeito do Rio, Eduardo Paes, numa recente entrevista com a AFP.
O Rio tem hoje em dia 32.436 aposentos: 20.414 de hotel e 12.022 entre motéis, apart-hotéis, pousadas e hostels. A meta é que a oferta aumente a 47.788 (+47%) no total para 2015.
“Os motéis serão uma opção para quem vem ao Rio de Janeiro, vão contar com hotéis econômicos em zonas privilegiadas da cidade”, disse à AFP, Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio (ABIH-RJ).
O sexo não é negócio
O ‘boom’ dos motéis de sexo no Rio de Janeiro teve seu auge nas décadas de 70 e 80. “Todos os rapazes queriam fazer logo 18 anos para poder visitar um motel”, recorda Antonio Cerqueira, vice-presidente da ABIH-RJ e proprietário do Shalimar.
Mas isso acabou devido às crises económicas no Brasil no final do século passado, o aumento de casos de aids e uma mudança cultural nas famílias.
“Antes não se podia nem imaginar levar a namorada para dormir na casa dos pais, mas de uns anos para cá isso tem se tornado normal”, afirmou Lopes.
Cerqueira indicou que, nos últimos anos, os clientes jovens foram substituídos pelos de idade média, “graças aos remédios milagrosos” para a disfunção erétil.
O adeus de Vênus
Pese a sua erótica decoração, a ocupação dos motéis sempre foi total em época de alta temporada como o carnaval e o ano novo, assim como quando houve importantes eventos como a cúpula da Terra de 1992 e até a visita do papa João Paulo II em 1997.
“Dignatários internacionais entravam nos motéis e se cruzavam com seus ocupantes usuais no final de suas atividades, era um ambiente curioso”, recordou o ministro de esportes, Aldo Rebelo, que considerou “uma boa ideia (…) o programa para que os motéis se transformem em verdadeiros hostels”.
O processo de transformação já tem uns dois anos, mas adquiriu força durante a cúpula da ONU Rio+20 em junho. Além dos grandes eventos esportivos que a cidade albergará, numerosas empresas -principalmente petroleiras- têm se instalado ultimamente no Rio de Janeiro, buscando alojamento econômico e de qualidade.
Os trabalhadores dos motéis também receberão treinamentos e cursos de idiomas para tratar o novo tipo de clientela, que não busca clandestinidade mas sim um bom serviço.
O Shalimar conta com 62 aposentos. Trinta já foram remodelados.
O silêncio nos corredores é subitamente interrompido por un grito feminino que surge de um dormitório. Os funcionários permanecem impassíveis.
Suja e quebrada, uma escultura de uma Vênus de grande tamanho descansa do lado de fora de um dos quartos cheio de escombros. Sua presença já não mais enfeita e, certamente terminará, como os espelhos, no lixo.
Só um dos quartos do velho Shalimar sobreviverá, a Medieval. Decorada com correntes e enfeites de granito que simulam uma torre de castelo, esta é uma das mais pedidas pelos clientes.
“Se a tiramos nos matam”, garantiu uma das empregadas do hotel com um sorriso amplo.
Por Javier TOVAR/AFP